Artista lança projeto para discutir masculinidade de homens negros LGBTQIA+

O artista Flip Couto lançou nesta segunda (28) o projeto Okó: MasKulinidades Transatlânticas, cujo objetivo é estudar e expressar formas alternativas e saudáveis de masculinidade que não sejam embasadas pelas discussões sobre a violência racial e policial e sobre a sexualização dos corpos negros.

O projeto é multimídia, composto por zines (revistas independentes), uma temporada de cinco episódios de um podcast inédito, o Rádio Okó, e dois vídeos com uma performance artística que envolve o corpo, a moda e a ocupação da cidade para expressar sentimentos, tudo isso partindo das experiências de um homem negro e gay.

Couto explica que para além de toda a luta por sobreviência, tanto de homens negros como de pessoas LGBTQIA+, a masculinidade precisa ser repensada de maneira que não se paute somente pelas violências sofridas ou eventuais, mas também pelos sentimentos.

 

Flip Couto em Okó_ Masculinidades Transatlânticas - Foto: @Afr0P
Flip Couto em Okó_ Maskulinidades Transatlânticas – Foto: @Afr0P

Cerca de 57% dos homens brasileiros foram ensinados a não expressar emoções, de acordo com o levantamento “O Silêncio dos Homens”, divulgado em 2019 junto com um documentário homônimo —ambos produzidos pelo portal Papo de Homem. Participaram da pesquisa, por meio de formulários online, quase 20 mil homens de todo o Brasil.

A criação de garotos para que se tornem “machos” leva 4 em cada 10 adultos a se sentir solitários, de acordo com o estudo, mas não para aí. Há outras consequências correlatas, como transtornos de ansiedade (31%), insônia (24%), vício em pornografia (23%), depressão (23%) e pensamentos suicídas (15%).

“É um tema que já permeia a minha vida, a minha construção social e a artística, mas eu nunca havia olhado para isso. Há vários grupos que discutem masculinidade, há estudos, mas eu nunca me vi representado nessas rodas de conversas e nesses conteúdos, então pensei e refleti sobre quais eram as minhas referências de masculinidade e descobri que eram os meus amigos gays, as minhas amigas lésbicas, as pessoas do meu dia a dia”, diz Couto.

A masculinidade, embora seja lembrada como algo ruim, pode e deve ser ressignificada.

O documentário “O Silêncio dos Homens” aborda variados graus de violência que passam pela raça, orientação sexual e gênero, além do machismo e misoginia, frutos da masculinidade tóxica. Ainda de acordo com o filme, homens brancos estão no topo da pirâmide social de bem estar e oportunidades, enquanto os homens transsexuais negros estão na base e na maior parte das vezes sequer são reconhecidos como homens —fruto da transfobia.

Mergulhando dentro de si, como costuma dizer, o artista encontrou matéria para suas primeiras experiências, uma delas aconteceu em 2018 durante um festival. Na ocasião, Couto performou virtualmente poemas de um colega. “Eu escutei o trabalho dele com o meu corpo”, afirma.

O projeto Okó: Maskulinidades Transatlânticas foi contemplado pela Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, criada para socorrer artistas e trabalhadores de setores culturais durante a pandemia da Covid-19.

“Okó quer dizer homem em Pajubá [dialeto popular e usado pelos povos do santo e pela comunidade LGBTQIA+]. Queríamos [Couto e equipe] entender quem é esse homem nas diásporas negras do continente africano rumo às américas. É um trabalho que pesquisa as emoções desses corpos, que trabalha com a subjetividade, e tudo isso em relação com a rua, com as pessoas”, diz.

Serviço:

Temporada de Okó: Maskulinidades Transatlânticas

Período exposição: De 28 de Junho à 04 de Julho
Dias: Segunda à domingo
Horário: 20h
Via Sympla: https://www.sympla.com.br/oko__1239060

1ª temporada do Podcast Rádio Okó

28/06 – Viny Rodrigues: Falocracia e as Falácias do Homem
05/07 – Pedro Guimarães: Poéticas de um Corpo Negro Bixa
12/07 – Formigão: Ser Sapatão Preto
19/07 – Caru de Paula: Trans masculinidades, Memória e Saúde mental
26/07 – Neon Cunha: Cissexismo e a Performance de Gênero

Zines

Quantidade: 400 unidades
Locais: Centro de Culturas Negras (Jabaquara), Centro Cultural da Juventude (Vila dos Andrades), Centro Cultural Tendal da Lapa (Água Branca), Centro Cultural Vila Formosa, Centro Cultural São Paulo (Paraíso) e Centro Cultural Olido (Centro Histórico)