Negros são menos de 5% dos indicados ao Prêmio Comunique-se, o Oscar do jornalismo brasileiro

O Prêmio Comunique-se divulgou no último dia 14 de junho os indicados em suas 27 categorias. Dos 214 comunicadores, somente 10 são negros, o equivalente a 4,7%, segundo levantamento feito pela Folha.

A jornalista Flávia Oliveira, colunista do O Globo e da rádio CBN e comentarista na GloboNews, foi a única pessoa negra a ser indicada em mais de uma categoria. Ela concorre nas categorias “mídia escrita” e “mídia falada” de Economia.

Em contrapartida, apenas oito comunicadores não negros somam 27 indicações. Os mais indicados são Natuza Nery (Globo), Nathalia Arcuri (RedeTV) e Guilherme Fiuza (Jovem Pan), com quatro indicações cada.

Dentre os oito mais indicados, cinco integram emissoras ou veículos valorizadas pelo presidente Jair Bolsonaro como Jovem Pan, RedeTV e Record.

Apesar de os vencedores serem escolhidos por votação popular, os indicados são escolhidos pela equipe da empresa Comunique-se S.A. Na prática, se a empresa não indicar um profissional, ele não poderá ser escolhido pelo público de nenhuma outra maneira.

O regulamento da premiação, disponível no site, informa que “os profissionais de comunicação que concorrerão ao Prêmio serão indicados primeiramente pela equipe do Comunique-se, com base nas indicações feitas pelos internautas por meio da votação no Portal Comunique-se e na página do Prêmio Comunique-se“.

O público apenas poderá votar para escolher entre os indicados três finalistas para cada categoria e, posteriormente, os 27 premiados. O resultado da votação é auditado, segundo o regulamento, por uma empresa independente.

Procurada, a Comunique-se não respondeu aos questionamentos até a publicação deste texto.

Entre os mais indicados, em três categorias, está o jornalista Augusto Nunes, que nesta quarta (24) disse em comentário ao vivo na Rádio Jovem Pan que “até a tonalidade da pele” indicaria que o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) mentiu ao falar sobre irregularidades nas negociações de compra da vacina Covaxin contra Covid-19 pelo governo federal.

De acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Miranda se declarou em 2018 como sendo branco.

“Todos os casos, inclusive essa evidente fraude ensaiada pelo deputado, seu irmão, Renan Calheiros e etc. As imagens que nós mostramos, elas falam. Nessas imagens, o rosto fala, os olhos falam, o tom de voz, o timbre, tudo fala. Até a tonalidade da pele e tal. É evidente que o Onyx, um político muito tarimbado, está falando a verdade”, disse Augusto Nunes.

Pelo comentário em vídeo (veja abaixo), não há como afirmar que a fala teve cunho racista, embora tenha sido interpretada por usuários nas redes sociais dessa maneira.

O jornalista disse à Folha que já no começo do comentário expressou que “o rosto fala, fala com o olhar inseguro, por exemplo. Ou com a boca ressecada. Ou com a tonalidade da pele. Quem mente corre o risco de ficar ruborizado, com a pele avermelhada. Quando me exponho ao sol por muito tempo, meu rosto adquire uma tonalidade bronzeada”.

Para Nunes, “quem vê racismo nesta constatação (sem ficar ruborizado) precisa de psiquiatra”.

Veja algumas das publicações de usuários que demonstraram incômodo e apontaram racismo na fala do jornalista, veja:

A forma como Nunes se expressou, porém, não foi percebido da mesma maneira por todos. Alguns usuários, por exemplo, não viram racismo neste caso: